quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Piedade



...Amanheceu cinzento o dia, entristecido pela tua partida. Na véspera o desespero invadiu-me , na certeza de que não mais te via acordada.
Nessa noite adormeceste para não mais regressares, esperámos do lado de cá mas o teu coração cansou-se de uma longa viagem que terminou atribulada, mais do que alguma vez pudemos imaginar.
No teu livro de condolências agradeci por tudo o que me ensinaste, em particular por me teres ensinado que o amor e o carinho que se dá ao outro são a melhor lição de vida que se pode ensinar ao próximo.
Esse agradecimento é pouco por tudo o que fizeste pelos outros, e em particular pelo que fizeste por nós, mais do que mãe, avó ou sogra foste uma amiga, no verdadeiro sentido da palavra, ao nosso lado nos momentos bons e maus.
Por onde passaste, deixaste boas recordações, ninguém te recorda com amargura, apenas com saudade...
Saudade, que dentro do peito cresce...Saudade é tentar alcançar-te e não conseguir dar-te a mão, mas saber que ela está lá, do lado de lá e que essa saudade nos dá alento para continuar nesta vida que tantas vezes nos tenta derrubar, mas que persistentemente teimamos em contrariar.
Mais cinzento foi o dia da despedida, como se o céu se juntasse à nossa dor, é difícil ver partir os que amamos, mas é bom sentir o conforto daqueles que ao nosso lado caminham, porque amizade não se paga...Retribui-se.
Nesta travessia da vida por cada obstáculo, há um amigo que caminha ao nosso lado e que nos dá a mão para connosco continuar...
Tantas flores que levaste contigo, cada uma com um sentido especial, para ti foram colhidas de um lindo campo que cultivaste com a doçura que sempre te acompanhou.
Vamos esquecer os últimos tempos, difíceis para ti e para nós, por não seres aquela que realmente conhecemos, porque na tua cabeça reinava um turbilhão de imagens e ideias que não conseguiste organizar, vamos recordar como sempre foste, vamos recordar o que tão bem sabias fazer, receber e acolher como ninguém e dar, dar muito de ti aos outros.
Talvez por saudade o dia amanheceu cinzento...
No Domingo o Sol brilhou porque tu já lá estavas, entre aqueles que partem e olham por nós. Sorriste-me?! Eu senti que olhaste para mim e me deste um beijo como aquele último que te dei, com carinho, com aquele carinho que só quem ama sabe partilhar.
Será sempre pequeno o que disser de ti, será sempre pouco, mas será sempre do coração e no final direi sempre OBRIGADO....
À memória da Tia Piedade que nos deixou no dia 17 de Janeiro de 2003 à 1h15m no HSM depois de 4 semanas de sofrimento

1 comentário:

Susana disse...

Os meus sentimentos, amiga... não fazia ideia... se precisares, já sabes... Beijos e força!